Baleias
Postado em 20/05/1990
Final de verão de 1972 nas mansas águas de Punta del Este. De repente escuto a cinematográfica frase de ?baleia à vista?... ?a través de bombordo?, complementaram. Logo pensei numa brincadeira a mais dos amigos uruguaios,... mas não era. Começava um lindo ?ballet aquático? de uma baleia e seu caxaréu (macho adulto) e um travesso baleóte, num privilegiado espetáculo de mais de 15 minutos que se eternizaram em nossas mentes. A idéia contada nas estórias infantis de ?Mobby Dick? ( a baleia assassina) não aconteceu. Do pequeno iate ( menor do que as baleias) pude perceber nossa fragilidade perante um ataque, e a delas perante os arpões dos interesses da indústria baleeira.
Em segundos, como um filme mental, passaram as lembranças de caçadas históricas de pescadores em velhos botes de madeira, até a mais sofisticada tecnologia eletrônica usada na localização e captura dessa espécie, com modernos navios frigoríficos. Assim, mesmo com a caça proibida em lei, são ilegalmente assassinadas, estando mencionadas entre as espécies ameaçadas de extinção dos oceanos do Planeta Terra.
Os azimutes da vida não combinam encontros com baleias, mas as leis da ciausalidade sempre se cumprem. Assim, qual foi o destino daquelas baleias? Será que viraram "estearina"? (uma matéria para fabricação de velas). Ou foram transformadas em produtos de maquilagem?( ... como xampus, cremes de belez, batons, cremes de barbear, loções capilares). Ou meros detergentes? Ou ainda vernizes, tintas para impressão, corantes? Ou desdobrada para produção de óleos lubrificantes para motores de precisão? (... como os de relógio, aviões, armamentos, astronáutica) Ou viraram resinas sintéticas para indústria têxtil? Ou simplesmente embaladas para rações de cães e gatos? Ou ainda um subproduto para adubo?
Hoje, a moderna indústria química sintética substitui perfeitamente estes produtos, injustificando-se a terrível ameaça destes inteligentíssimos seres marinhos.
Creiam que a sinfonia da vida, representada pelo cantigo das baleias, precisa continuar... mas sem lâminas de dentes de baleias, para construírem os teclados dos pianos.
Daquele encontro uma lição: as baleias respeitam os homens... mas os homens não respeitam as baleias. Porque a raça humana é tão destruidora? Será humana mesmo?
Antes do mergulho de despedida, lembro o som do "bufar" da baleia, lançando uma névoa de vapor d’água condensada, como um sinal de "SOS". Sei que a covardia do lucro não têm escrúpulos ou sentimentos e longe de nossos olhos – em alto mar – a caça continua... porém não calaremos!
Afinal, o "Acordo Internacional para Regulamentação da Caça à Baleia" continuará desrespeitado também? Nem os apelos da instituição "World Wildlife Found" serão atendidos? Ou a luta do "Greenpace"? Nosso epílogo será: aqui vivem as baleias? ... Ou um triste epitáfio: aqui jazem as baleias? ( DIÁRIO DA MANHÃ, pg 10 – Domingo, 20 de maio de 1990 / INTEGRAÇÂO REGIONAL, Campo Mourão, PR - 05 /05 /1995 )
Dr. Gilnei Fróes - Gestor Ambiental, Médico-veterinário, ecólogo, amazonólogo, coordenador do Programa "SOS" Planeta Terra. Em 1990, indicado ao "The Rolex Awards" (Suíça) e ao "The Global Awards 500" (Kenia) por entidades ambientais de SC e RS. Premio de Jornalismo da Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, com o artigo "TAIM: Paralelo 33... ameaçado!" (Jornal da Manhã). Presidente do "Instituto Bering Fróes Eco Global". Autor de projetos ambientais internacionais.